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A relação das pessoas com a culinária: degustando histórias.

Alguns dizem que cozinhar é uma ciência. Outros, que é uma arte. Para Mia Couto, escritor e biólogo moçambicano, cozinhar é um modo de amar os outros. No entanto, não é preciso ser um grande chef para cultivar essa forma de amor.


Em suas vidas, pessoas cozinham por motivos diversos. Para alguns, a culinária exerce uma função profissional; para outros, lembra almoços em família. Há também quem cozinhe só de vez em quando, apenas para fazer arte.


Para entender um pouco mais sobre as diferentes relações das pessoas com a culinária, convidamos o José Roberto (economista; casado; pai de três filhos e amante de culinária aos 53 anos de idade) para contar para a gente um pedacinho de sua história com essa arte (ou ciência). Será que você se identifica com ele?

Chefão: Conte um pouco da história do seu primeiro contato com a culinária.


José Roberto: As primeiras lembranças que tenho de cozinha são de quando eu estava observando minha avó fazendo pães. Aqueles pães com fermentação natural (inclusive, há pouco tempo, consegui reproduzir esse processo e fazer pães semelhantes aos que ela fazia). Na época, ela separava um pedacinho de massa e passava pra mim, falando “Beto, faz o seu pão”. Aí eu moldava um pão pequenininho e assava junto com os dela. Sempre saía muito bonitinho meu pãozinho, todo gordinho! Eu adorava!

Essa é a primeira recordação que eu tenho de gostar de cozinha. Mas comecei a cozinhar mais intensamente quando entrei na faculdade. Eu me alojava em uma moradia estudantil e o pessoal fazia muito miojo. Eu odiava e me recusava a comer. Aí aprendi a fazer um espaguete, um arroz... e então comecei a pegar gosto. ”


C: E qual é a melhor parte da arte de cozinhar?


J.R.: Acredito que, de maneira geral, a melhor parte seja a de ter a libertação, a autonomia e a capacidade de a gente prover seu próprio alimento. É ser capaz de cozinhar uma comida saudável; de ter a satisfação de comer algo feito por você mesmo, quentinho, na hora. Algo em que a gente conheça a procedência dos ingredientes.


Mas, no meu caso, é ainda melhor poder ver minha família feliz comendo a comida que eu faço. Comigo isso acontece todos os dias, porque sou eu quem preparo o almoço e o jantar lá em casa, inclusive nos finais de semana. E ver os meus filhos comendo e pedindo para eu fazer as receitas que eles gostam (espaguete à carbonara, bolo de cenoura...). Essa, pra mim, é a maior satisfação.


C: Você prefere comer a comida que você faz ou a de outras pessoas?


J.R.: Normalmente, prefiro minha comida, porque conheço os ingredientes, sei a procedência deles, sei os pontos e o tempero que me agradam. Quando gosto muito da comida dos outros, geralmente são de pratos pontuais. Por exemplo, gosto muito do arroz com feijão que minha mãe faz. Remete a minha infância, a minha existência. Gosto também de um bolo de abacaxi que uma das minhas tias cozinha e do pudim da minha sogra. Mas, se eu passar um mês comendo a comida de uma pessoa todos os dias, certamente vou preferir a minha.


C: Que papel a culinária ocupa na sua vida?


J.R: Hoje, ela ocupa um pedaço muito grande da minha vida. É um hobby, mas eu o pincelo com características profissionais. Como sou eu quem faz o almoço e o jantar em casa, passei a fazer as compras de supermercado também. Administro o estoque da dispensa e a organização da geladeira, e ficou muito melhor depois que eu assumi essas responsabilidades. O desperdício diminuiu demais.


Penso em culinária o tempo todo. Sigo blogs, profissionais, canais no youtube e estou sempre acompanhando esses conteúdos nos intervalos que tenho, além de sempre procurar referências na internet para os pratos que decido fazer. Além disso, gosto muito de conversar sobre cozinha – o que é até meio chato, porque a maioria dos meus amigos fala é sobre carro, e eu não dirijo (risos). Meu papo é culinária. Se alguém começa a conversar sobre isso comigo, eu não paro mais. Gosto de falar sobre o ponto dos alimentos, seus sabores, etc.


C: Por último, conta pra gente o segredo para uma comida gostosa.


J.R: Eu não tenho dúvidas: é a qualidade e o frescor dos ingredientes. Quando vou comprar os ingredientes de um prato, procuro os produtos de melhor qualidade que minha renda permite ter. Não compro os absolutamente melhores, mas sei diferenciar um bom espaguete de um ruim. E tem também o prazer da pessoa que faz, né? Não tem como você ser feliz fazendo uma coisa de que não gosta. Então, se você tem prazer em cozinhar, a comida sai gostosa. Mas, se os ingredientes são bons, ajuda.


No fim, não cabe perguntar se a culinária é uma arte ou uma ciência, porque ela é os dois! Está na base do cálculo, do conhecimento, da cautela, do tempo, da mistura, da temperatura. Mas também está na base do amor, da boa vontade e da inspiração de quem cozinha.


Um abraço pra todos que, assim como a gente aqui do Chefão, amam desfrutar dessa atividade tão gostosa que é a gastronomia!

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